"Uma história de poligamia"
Aqui em Moçambique há muita poligamia. Quase todos os homens têm 3 ou mais esposas. A cada mulher, quando casam, é dada uma casa e um pedaço de terra ("machamba"), onde trabalharão o resto da vida, para sustentarem a casa e os filhos e fazerem todas as vontades ao marido. As mulheres e os filhos andam descalças e os maridos andam com sapatos; as mulheres andam a pé carregando nas cabeças sacos de verduras, cestos de roupa, lenha para fazer uma fogueira enquanto os homens andam de bicicleta ou mota. O homem quanto mais filhos e mais mulheres tiver mais viril é, a mulher se alguma vez se lembra de trair o marido morre espancada. E ai da mulher que não consegue ter filhos! É desrespeitada, repudiada, abandonada. Vive e morre sozinha porque ninguém se quer aproximar dela.
É chocante ver esta realidade tão viva na minha frente. É chocante a forma de pensar das próprias mulheres que nascem e vivem pensando no casamento e no agradar em tudo ao seu marido para "ele não procurar fora de casa o que não encontra em casa". É chocante ouvir os homens dizer que são seres superiores e que podem ter as mulheres que quiserem e que as mesmas não têm opinião sobre o assunto.
É chocante ver esta realidade tão viva na minha frente. É chocante a forma de pensar das próprias mulheres que nascem e vivem pensando no casamento e no agradar em tudo ao seu marido para "ele não procurar fora de casa o que não encontra em casa". É chocante ouvir os homens dizer que são seres superiores e que podem ter as mulheres que quiserem e que as mesmas não têm opinião sobre o assunto.
Eu olho para as crianças com quem brinco diariamente e penso no prazo de validade dos sorrisos que têm nas suas faces. Olho para elas e vejo tanto potencial, tanto para dar, mas sei que daqui a uns anos estão a casar e a produzir filhos ano sim, ano sim. Sei que daqui a uns anos a grande maioria vai perder aquele sorriso, vai-se apagar toda aquela vivacidade e viverão uma vida de submissão e de sofrimento silencioso. Sei que todo aquele potencial não vai ser posto a render e morrerá aos poucos num coração que chora e sonha uma vida melhor.
"Em Moçambique canta-se e dança-se na alegria e na tristeza. As músicas escondem as lágrimas das mulheres que sofrem com os corações amargurados."
Em '"Niketche - uma história de poligamia" de Paulina Chiziane
(Paula Lopes como este livro retrata a realidade!)'
(Paula Lopes como este livro retrata a realidade!)'
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