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A mostrar mensagens de agosto, 2018

Coração cheio

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Após iniciarmos o nosso trabalho na Escola João XXIII, tivemos a ideia de criarcri "grupo de apoio ao estudo". Os estudantes vêm ter connosco com alguma disciplina que querem estudar, têm dúvidas ou precisam de explicações e nós procuramos ajudar no que for possível. A mim marca-me muito a diferença de interação das crianças na escola João XXIII e as crianças do Colégio. São crianças da mesma idade, no entanto tanto as separa! Os alunos da escola parecem mais tristes, mais desconfiados, não se abrem tão facilmente ao relacionamento; enquanto os alunos do colégio correm e falam comigo mal chego, abraçam-me, todos querem que fale e brinque com eles. E o que motiva esta diferença? A desigualdade social! Porque as crianças da escola, e entre elas posso falar das que são apadrinhadas pela SOPRO, têm mais dificuldades económicas, vivem na pobreza, sem condições mínimas de sobrevivência, passam fome, vivem no meio do lixo. Tem sido desafiante e simultaneamente enriquecedor tenta...

Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas...

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Desde que regressei à Beira vivo novamente o processo de ambientação, entrar no ritmo e "conhecer os cantos à casa". Agora a tarefa está facilitada porque tenho a companhia dos outros voluntários portugueses, a Sónia e o André, que após uma semana já estavam mais integrados e me ajudaram também a perceber a dinâmica do funcionamento da casa e da escola. E devido a essa ambientação não tenho muito a ressalvar dos últimos dias exceto a cerimónia de abertura do 3º Trimestre ontem, com o cântico do Hino Nacional de Moçambique. Fiquei arrepiada! Hoje, e após estes primeiros dias de integração, o dia foi muito cheio e especial. Primeiro porque dois irmãos da comunidade fazem anos, o Irmão Sebastião e o Irmão Ivo, e por isso toda a casa, a escola e o colégio estavam em ambiente de festa. A toda a hora se ouvia cantar os Parabéns ou se ouvia a frase "Queremos bolo!". Em segundo lugar, o dia começou de forma espetacular! Fomos conhecer o Centro Assistencial e com a rec...

Adeus Mangunde...

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Este fim-de-semana regresso à Beira e por isso hoje as crianças de Mangunde fizeram-me uma festa de despedida. Houve danças, músicas e muitos, muitos, muitos vídeos (só queriam filmar tudo o que faziam! Tinha muita piada até começar a ser chato! 😂😂). Queriam dar-me prendas de despedida, desenhos e balões, beijos e abraços. Ouvimos música e dançamos, fizemos teatros e contamos histórias. Foi uma tarde maravilhosa, de encher o coração, e o início de saudade pelas pessoas que aqui conheci, principalmente estas "mini-pessoas" que tão grandes se revelaram.  Nunca irei esquecer cada sorriso, cada dança e música, cada momento vivido, cada abraço, cada foto ou vídeo, cada palavra ou olhar partilhado .  E como foi emocionante no fim do dia me dizerem: " nunca nos vamos esquecer de ti! E vamos sempre sorrir com os dentes todos como nos ensinaste!"  Cheguei aa Mangund sozinha, um pouco perdida e desorientada, mas saio mais crescida, mais humana e mu...

"Uma história de poligamia"

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Aqui em Moçambique há muita poligamia. Quase todos os homens têm 3 ou mais esposas. A cada mulher, quando casam, é dada uma casa e um pedaço de terra ("machamba"), onde trabalharão o resto da vida, para sustentarem a casa e os filhos e fazerem todas as vontades ao marido. As mulheres e os filhos andam descalças e os maridos andam com sapatos; as mulheres andam a pé carregando nas cabeças sacos de verduras, cestos de roupa, lenha para fazer uma fogueira enquanto os homens andam de bicicleta ou mota. O homem quanto mais filhos e mais mulheres tiver mais viril é, a mulher se alguma vez se lembra de trair o marido morre espancada. E ai da mulher que não consegue ter filhos! É desrespeitada, repudiada, abandonada. Vive e morre sozinha porque ninguém se quer aproximar dela. É chocante ver esta realidade tão viva na minha frente. É chocante a forma de pensar das próprias mulheres que nascem e vivem pensando no casamento e no agradar em tudo ao seu marido para "ele não procur...

Felicidade verdadeira

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Ontem e hoje fui visitar as comunidades de Nhaummue e as crianças da Escola da paz. Trouxe de Portugal algum material para o hospital com receio de aqui não ter em quantidade suficiente, de entre o qual luvas de látex. A verdade é que no hospital têm luvas, então decidi reutilizar as mesmas para um outro propósito. Depois de ver o quão felizes tinham ficado as crianças quando levamos balões para elas brincarem e como algo tão  simples  trouxe tanta  felicidade, utilizei as luvas para fazer "balões" com caras e feitios desenhados. Não consigo transmitir por palavras a felicidade que vi nas faces das crianças a quem presenteei com este simples gesto. Não consigo transmitir por palavras os abraços e carinhos que recebi daqueles meninos. Não consigo transmitir por palavras o que senti quando ouvi todos os "tabonga" apenas pela minha visita. Agradeciam-me simplesmente pela minha presença,  por ter saído da missão e ter ido ao seu encontro. Têm sido momentos fantásti...

Carrossel de sentimentos

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Hoje de manhã declaramos pela primeira vez na minha vida uma morte. A senhora idosa, abandonada pela família, acusada de feitiçaria deu entrada no internamento hoje já sem vida. Dizia a vizinha que há uma semana vomitou sangue e ninguém a trouxe ao hospital desde então até hoje. Quando chegou já não tinha pulso, não respirava, as pupilas não eram reativas. Declaramos a morte. Fiquei muito triste por a senhora ter morrido sozinha, sem ninguém. Não estava lá uma única pessoa que se preocupasse com ela, que chorasse quando ouvisse as palavras "ela faleceu". E pensei em todos os idosos abandonados e renegados pelas famílias, não só em Moçambique mas em todo o mundo. Ouvimos muitas vezes em Portugal "idoso encontrado morto em casa há X dias".  O que se passa com o mundo que não consegue ver os mais velhos como seres dignos de amor e carinho? O que se passa com o mundo para ver os mais velhos como fonte de trabalho e preocupações? Será que não nos lembramos que nós tam...

Diana's Anatomy

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Hoje logo pela manhã estava com um estagiário de enfermagem enquanto ele ia algaliar uma grávida. Ele pega numa algália, num tubo de oxigenação com máscara, numa seringa e numa garrafa de soro fisiológico. Eu não percebia o que ele estava a fazer e por isso perguntei-lhe  para que era todo aquele material se o que se tinha que  fazer era apenas algaliar a senhora. Ele respondeu-me "aqui não  temos sacos coletores. Temos de improvisar". Entao cortou a máscara ficando apenas com o tubo de oxigénio, uniu a algália ao tubo com a parte externa da seringa e, após esvaziar a garrafa de soro fisiológico e fazer um furo, fez passar o tubo para o interior da garrafa que servia assim de reservatório de urina. (A "geringonça" está nas imagens seguintes) Vi em seguida um homem com uma anemia absurda!! O valor de hemoglobina era de 2,4g/dl! (Num homem o normal ronda os 13g/dl). Necessitava de uma transfusão urgentemente. O problema é que aqui não há banco de sangue. Têm...

Nunca façam planos com um Moçambicano

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Ontem convidaram-me para conhecer Muxungue, a cidade mais próxima de Mangunde que fica a cerca de 45km. Fiquei entusiasmada por sair um pouco da missão, ir à cidade!! Conhecer um novo sítio que seria mais movimentado, com mais coisas para ver. A viagem foi feita mais uma vez numa carrinha de caixa aberta mas nos primeiros quilómetros, e para piorar toda a situação que descrevi na quinta-feira, estávamos cerca de 40 pessoas na carrinha! Foi horrível!! Não sabia onde me amarrar, não tinha sítio onde pôr os pés (fui o caminho todo nas pontas dos pés e quando tentava pousá-los um pouco pisava pessoas), com o movimento começávamos todos a cair uns por cima de outros, nas subidas tínhamos de sair da carrinha porque não aguentava tanto peso. Foram os 25 km mais longos da minha vida! Os meus colegas diziam que era uma aventura. Eu respondia que parecia mais uma tortura! Chegados a Muxungue fiquei surpresa porque a "cidade" não era como imaginava. Era pequena, com muito poucas coi...

Porque toda a Vida é VIDA!

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Hoje, e como consequência da situação muito infeliz que vivemos no sábado passado, fomos fazer uma palestra de sensibilização para a problemática da marginalização e ataque a idosos. Juntamo-nos porque toda a vida é VIDA e nenhuma é mais valiosa do que outra. Não tem importância a idade, o género, as crenças ou a raça. Os idosos não são consumidores de recursos, portadores de doenças ou feiticeiros, são pessoas com sentimentos e com experiências para partilhar! Querem acima de tudo ser amados e não mal-tratados. Foi uma tarde bem passada de consciencialização para uma problemática muito proeminente nesta região. "Porque toda a vida vem de Ti, Em tua luz, vejo a luz. Porque toda a vida vem de Ti, E tua luz, faz-me ver a luz."

Volta Tiago, estás perdoado!!

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Quem é amigo de Tiago Maia sabe o quão perigoso era andar de carro com ele nos seus primeiros meses de carta. Todos nós tememos pela nossa vida pelo menos uma vez e pela vida dele também. E até hoje eu diria que a  viagem em que mais perto estive da morte em toda a minha vida tinha sido com o Tiago ao volante. Mas hoje as coisas mudaram. Saí da missão em direção ao centro de saúde distrital de Chibabava. Para perceberem o meu medo nesta viagem têm de entender que foi feita na parte de trás de uma carrinha de caixa aberta. Antes da viagem começar até achei que ia ser engraçado recordar os tempos de infância em que andávamos na carrinha do meu avô mas mudei de ideias muito rapidamente pois, para além de o motorista andar muito depressa, as pessoas aqui em Moçambique não têm medo dos carros e em vez de se desviarem era a carrinha que se tinha que desviar delas! Ora vira para ali, ora vira para acolá! E enquanto isso eu tentava amarrar-me o melhor possível e manter as nádegas em con...

Pessoas que marcam

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Hoje mal o meu dia começou cruzo-me com uma menina com quem estive a brincar no domingo. Ela quando me viu, começou a correr na minha direção para me abraçar. Reparo que traz alguma coisa às costas e por isso espreitei para ver o que era e deparei-me com isto: Sim, trazia uma bebé às costas, sua irmã Luísa! Corria, brincava com as outras crianças, fazia tudo com a irmã às costas. Confesso que isto me causou imensa impressão!  Ficava sobressaltada sempre que ela começava a correr: e se ela tropeçasse? Ofereci-me até para segurar a bebé mas ela olhou-me e disse: "Eu sei tomar conta dela." Este momento foi interessante para mim porque esta menina lembrou-me um pouco de mim mesma, pois também eu sempre gostei de tomar bem conta dos meus irmãos. Mimá-los (muitas vezes em excesso!), estar atenta ao ser bem-estar e passar momentos significativos com eles. Sempre fui responsável por eles. Quer da bebé pequena, como do bebé grande!! (Celso tens de te conformar que este blog é ...

Cantar e dançar a fé

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Hoje de manhã acordei bem cedo para ir à eucaristia aqui na paróquia. Fiquei maravilhada com a quantidade de pessoas presentes na igreja e com toda a alegria, cânticos e palmas que se faziam ouvir. Era impossível resistir e não dançar! No final estive a brincar com as crianças, a fazer jogos, a cantar e a dançar (quer dizer, eles a dançar e eu a envergonhar-me em  público! Eles dançam de forma inacreditável!). Deixo-vos um vídeo de uma música de boas-vindas que me fizeram 😍. Todos fizeram fila para tirar fotos comigo, me cumprimentar e dar um abraço. Foi uma manhã muito bonita e muito especial!

Quero ser mais como uma criança...

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Hoje estava entusiasmada porque íamos sair da missão e fazer visita às comunidades. Estava desejosa por fazer isto, ver a realidade destas pessoas. Ao longo das nossas vidas, ouvimos falar muito de África. Ouvimos falar das dificuldades que passam, ouvimos falar do nível de pobreza em que vivem, vemos fotos destas duras realidades. Eu, muito devido ao colégio La Salle e com este à SOPRO, pensei que estava preparada para tudo. Sempre falamos sobre estes temas, sempre me incentivaram a estar atenta às realidades do mundo. Pensei que tinha bagagem suficiente para lidar com todas estas situações extremas. Apercebo-me agora do quão errada estava... Ao chegar à casa da idosa que íamos visitar, notamos que algo não estava bem. Estava muita gente reunida naquele local, com caras tristes. Falavam uns com os outros no seu dialeto. Eu não entendia o que diziam mas percebia que se passava alguma coisa. E o meu coração ficou pequenino quando percebi o que tinha acontecido: tinham pegado fogo à...

Realidade que emociona

Hoje chorei pela primeira vez desde que cheguei a Moçambique. E não foi de saudades (desculpa Ritinha, tenho muitas saudades mas ainda não foi desta). Chorei porque tive o primeiro contato com o hospital e com os doentes de Mangunde.  Chorei porque vi as condições com que estes profissionais de saúde têm de trabalhar. Chorei porque vi os doentes em sofrimento. Chorei por aqui não ser possível fazer um simples tira-teste de urina, algo que já vi ser feito apenas para tranquilar pais de crianças na urgência de pediatria no São João. Chorei porque estive a ver drenagem de um abcesso decorrente de uma otite supurativa num menino de 2 anos. Uma otite! Algo que já todos tivemos pelo menos uma vez na vida, uma das infeções mais comuns nas nossas crianças e facilmente tratada  com um simples antibiótico. Tinha uma evolução tão extrema que o menino tinha a orelha completamente dismórfica, chorava e gritava. Agarrava-se à sua mãe contorcido com dores. Chorei porque vi uma rapa...

Porque esta imagem vale mais do que mil palavras

"Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.  Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se autor da própria história. É atravessar desertos fora de ti, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da tua alma.  É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida."  Fernando Pessoa